A delinquência come solta. E Jair Bolsonaro acaba de jogar uma batata quente no colo da Polícia Federal e do Ministério Público, que têm de ...
A delinquência come solta. E Jair
Bolsonaro acaba de jogar uma batata quente no colo da Polícia Federal e do
Ministério Público, que têm de apurar como ele teve acesso a documentos de uma
investigação sigilosa. Documentos que, atenção!, provam que ele está errado,
não certo! É a República na era do esculacho. Bolsonaro contou ao menos duas
grandes mentiras na entrevista concedida à Jovem Pan ontem à noite, depois que
ficou sabendo que Alexandre de Moraes resolveu incluí-lo no inquérito 4.781. E,
claro!, fez, adicionalmente, o que mais sabe fazer: ameaçar com golpe de
estado. E sem disfarce....
A primeira grande mentira diz
respeito ao ordenamento legal, e a verdade já foi reconstituída aqui. Em
síntese: ele só será punido à esteira do inquérito de que Alexandre de Moraes é
relator no Supremo se a PGR pedir a abertura de uma ação penal. Será que ela
vai??? Nesse caso, seria preciso que dois terços da Câmara autorizassem o
tribunal a votar a questão. Se houvesse uma maioria de ministros que acatasse o
pedido, então o presidente se tornaria réu e teria de se afastar da Presidência
por ao menos 180 dias. Nesse período, a corte teria de julgá-lo. Portanto,
inexiste a instância que "abre [o inquérito], apura e pune", como ele
disse, sem qualquer outra mediação. Todos sabem, para o mal do país, que a PGR
não vai pedir abertura de ação penal coisa nenhuma, apesar das evidências. Se o
fizesse, não haveria os dois terços de deputados para autorizar o STF a
examinar a questão....
E daí? O compromisso de Bolsonaro não
é com os fatos. A única "verdade que liberta", no seu mundo, são as
suas mentiras convenientes. Afinal, dispõe de um público fiel que aceita
qualquer coisa. Basta que o líder o inflame com suas palavras de ordem. E,
claro!, pode contar com os propagadores do oficialismo do caos.
A SEGUNDA A segunda grande mentira se
refere à suposta prova que apresentou de que a urna é vulnerável. Uma piada
grotesca. Já havia feito uma tentativa patética na live de quinta. O troço foi
de tal sorte ridículo que ele houve por bem dobrar a dose para ver se confere
mais verossimilhança à farsa. Bolsonaro recorreu a um inquérito que tramita em
sigilo na Polícia Federal — e quebrar tal sigilo é crime, note-se — para
sustentar que, em 2018, uma pessoa teria tido acesso ao código de programação
da urna eletrônica. Sim, existe o inquérito, mas ele não apura fragilidade da
urna eletrônica, e sim a invasão de base de dados do TSE que nada têm a ver com
o equipamento que registra o o voto. Aliás, tal invasão só foi possível porque,
afinal, os dados invadidos estão na rede. Mas eis o busílis. As urnas não
estão. Ademais, o código-fonte, é acessível. Se assinado e lacrado
digitalmente, não há como fraudar. Ainda que houvesse a possibilidade, o
programa simplesmente não "rodaria", como lembra nota esclarecedora
do TSE, que reproduzo abaixo.
Em referência ao inquérito da Polícia
Federal que apura ataque ao seu sistema interno, ocorrido em 2018, o Tribunal
Superior Eleitoral esclarece que:
1. O episódio de 2018 foi divulgado à
época em veículos de comunicação diversos. Embora objeto de inquérito sigiloso,
não se trata de informação nova.
2. O acesso indevido, objeto de
investigação, não representou qualquer risco à integridade das eleições de
2018. Isso porque o código-fonte dos programas utilizados passa por sucessivas
verificações e testes, aptos a identificar qualquer alteração ou manipulação.
Nada de anormal ocorreu.
3. Cabe acrescentar que o
código-fonte é acessível, a todo o tempo, aos partidos políticos, à OAB , à
Polícia Federal e a outras entidades que participam do processo. Uma vez
assinado digitalmente e lacrado, não existe a possibilidade de adulteração. O programa
simplesmente não roda se vier a ser modificado.
4. Cabe reiterar que as urnas
eletrônicas jamais entram em rede. Por não serem conectadas à internet, não são
passíveis de acesso remoto, o que impede qualquer tipo de interferência externa
no processo de votação e de apuração. Por essa razão, é possível afirmar, com
margem de certeza, que a invasão investigada não teve qualquer impacto sobre o
resultado das eleições.
5. O próprio TSE encaminhou à Polícia
Federal as informações necessárias à apuração dos fatos e prestou as
informações disponíveis. A investigação corre de forma sigilosa e nunca se
comunicou ao TSE qualquer elemento indicativo de fraude.
6. De 2018 para cá, o cenário mundial
de cybersegurança se alterou, sendo que novos cuidados e camadas de proteção
foram introduzidos para aumentar a segurança dos demais sistemas
informatizados. 7. Por fim, e mais importante que tudo, o TSE informa que os
sistemas usados nas Eleições de 2018 estão disponíveis na sala-cofre para os
interessados, que podem analisar tanto o código-fonte quanto os sistemas
lacrados e constatar que tudo transcorreu com precisão e lisura.
ENTENDERAM? O sistema da Casa Branca
já foi invadido. O do Pentágono também. Daí a afirmar que pode ter havido roubo
dos códigos da "maleta nuclear" do presidente americano, convenham,
vai uma grande distância. É de amargar que um presidente se preste a espalhar
mentiras na tentativa de ver triunfar uma tese que, por sua vez, é só a
antessala de outra, seja qual for, se o resultado nas urnas permanecer adverso.
Mas lá estão os sectários e os oportunistas a assegurar que aquilo que
Bolsonaro apresentou é uma "prova". Sabem que não é. Sabem que também
eles não querem voto impresso coisa nenhuma. São apenas militantes do golpe.
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